Para começar este blog, nada melhor do que relembrar. Relembrar serve para aprender. Então postarei aqui uma resenha que fiz do jogo que eliminou o Brasil em 2006. Muito se criticou Ronaldinho Gaúcho naquela copa. Para mim, uma extrema injustiça (o que comentarei em uma outra resenha). E pouco se falou da pífia atuação de Carlos Alberto Parreira.
Pois bem, naquele 1 de julho de 2006 vociferei as seguintes palavras:
ME SABE MELHOR PERDER COMO PERDEU TELÊ
Estou convencido de que em uma copa, nem sempre se ganha a melhor seleção. Também tenho entre minhas crenças que jogar atacando ou contra-atacando não faz com que uma seleção tenha mais ou menos chances de ser campeã. Acredito que o treinador deve escolher o esquema adequado para sua equipe, conseguindo sempre o melhor de seus jogadores, seja qual for o esquema que adote. Agora, quando se possui um elenco farto de bons jogadores em todas as posições, sou taxativo: melhor jogar sempre em busca do gol, os 90 minutos. Sempre se pode perder um jogo, mesmo quando se conta com os melhores jogadores e se está sempre buscando o ataque, mas o contrário também é verdade, sempre se pode perder quando se joga com cautela. E se o risco de perder existe em ambas as formas, prefiro corrê-lo jogando no ataque. Jogar no ataque não significa jogar com muitos atacantes. Inclusive pode-se jogar no ataque em um equema de 3 zagueiros. E pode-se fazer um jogo cauteloso, mesmo com 2 centroavantes e 2 meias. O futebol necessita equilíbrio.
Pois bem, no caso do Brasil, somos indiscutivelmente privilegiados. Podemos sempre optar por jogar no ataque. E o fato de termos jogado no ataque e perdido as copas de 82 e 86, não significa que devemos abandonar esta característica. Está provado que também conseguimos perder quando jogamos burocraticamente. Diz-se que quem ganha ou perde jogo são sempre os jogadores, nunca o treinador. Isto só é verdade em parte. O treinador tem sim sua parcela nas vitórias e nas derrotas. E desta vez, acredito que cabe a Parreira um parcela maior de culpa. Primeiro por não querer atacar, depois por selecionar mal os jogadores e terceiro, por ser lento no decorrer da partida. Vamos aos fatos.
Roberto Carlos conseguiu uma fama que nunca fez jus a seu futebol. Um lateral não pode ser considerado bom por marcar gols de falta. Não é a principal função de um lateral marcar gols. Não vi jogar melhores laterais do que Jorginho, Maldini ou Zanetti, e não me recordo de tê-los visto marcar muitos gols. Ao jogar Gilberto Silva, Zé Roberto e Kaká juntos no meio de campo, Parreira abdica de uma criação melhor na saída de jogo, que para mim é a função principal no campo. É certo que não contamos com nenhum Falcão atualmente no elenco, nem sequer um Redondo, mas me parece que Zé Roberto, junto a Gilberto Silva não é a melhor escolha. Zé Roberto é um fenomenal jogador, quiçás um dos melhores laterais esquerdos que o Brasil já teve, mas, notem, é um lateral. Tem caracteríscas de um lateral (marcar um contra um, correr com a bola e cruzar bem, o que o faz infinitamente melhor do que Roberto Carlos). O ideal seria que contássemos com 3 Falcões e 1 Zico, mas quando isso não se faz possível, melhor tentar equilibrar com o que se tem. Zé Roberto, jogando de volante, seria uma boa pedida se o frente de zaga (Gilberto Silva) fosse um jogador do estilo de Redondo. Como não é assim e, para piorar, nem Kaká nem Adriano, nem Ronaldo são grandes armadores, essa função ficou sobrecarregada em Ronaldinho.
Já falamos da defesa e do meio campo, agora cabe arrematarmos esta crítica com uma opinião sobre o nosso ataque. Sempre preferi jogar com um atacante leve, de bom passe e bom drible, acompanhado de outro, extremamente oportunista, com um disparo certeiro e uma capacidade de se desmarcar nos momentos chaves. Melhor ainda se tem um bom cabeceio e sabe jogar de pivô, em suma, o centroavante nato. Nesta copa da Alemanha, Parreira optou por jogar com 2 centroavantes, Ronaldo e Adriano. Para que um esquema com 2 centroavantes funcione, em minha opinião, ou se joga a base do chutão (como a Itália) ou se faz necessário que os dois volantes tenham uma boa saída de bola. Como não acredito que chegarei a ver o Brasil jogar à base do chutão, e tendo em vista a minha análise dos nossos dois volantes, acredito que Parreira vinha se equivocando ao escalar Gilberto Silva (que só dá passes curtos e laterais) e Zé Roberto, junto a Ronaldo e Adriano. Isto sobrecarrega muito os dois meias e faz com que sempre dependamos de excelentes atuações de ambos.
Estes foram os erros de escolha de Parreira, agora lhes contarei na lentidão no transcorrer da partida. Contra a França, Parreira optou por jogar com Juninho no lugar de Adriano, mantendo 5 jogadores no meio. Sua aposta foi ganhar na armação sem perder no defensivo. É questão de escolha. Eu não faria, mas foi uma escolha aceitável. O problema foi que Cafú não estava em seus melhores dias e Káká fez o pior jogo de sua vida. Nossos dois volantes faziam o que sabiam, enquanto Juninho e Ronaldinho jogavam bem, mas nem tanto. Já do outro lado pudemos ver um Zinédine Zidane impecável, um grande Patrick Vieira, além de bons marcadores como Thuram e Makélele.
Bem, por sorte terminamos a primeira parte sem tomar nenhum gol. E como sempre, Parreira não fez mudanças. Seguiu com Kaká (que não acertou um passe, não dominou uma bola de costas e não abriu espaços para os companheiros) e com Cafú. Iniciamos a segunda parte como terminamos a primeira e, como era de se esperar, tomamos o gol. E, como sempre, Parreira nada fez. Não admito que um treinador que conte com excelentes jogadores no banco, como Ricardinho e Robinho, espere mais 10 minutos para fazer uma mudança quando o time vinha jogando mal desde o princípio. E para piorar, quando Parreira decide mudar, tira Juninho e deixa Káká. Com a entrada de Adriano, Ronaldinho apareceu um pouco mais, mas Káká continuou errando. E Parreira, com uma lentidão que beira a má fé, só fez as duas mudanças que deveria ter feito já no intervalo, quando faltavam menos de 15 minutos para o final da partida.
Perdemos para uma grande França. Desacreditada, mas repleta de bons jogadores. E que conta com o que foi, para mim, o melhor jogador dos últimos 10 anos. Mas perdemos, também, por culpa da cautela e medo de um treinador. E me sabe melhor perder como perdeu Telê em 82. Não me caem bem os covardes e os de raciocínio lento.
É tudo.
Valencia, 1 de julho de 2006