segunda-feira, 29 de março de 2010

Me sabe melhor perder como perdeu Telê.

Para começar este blog, nada melhor do que relembrar. Relembrar serve para aprender. Então postarei aqui uma resenha que fiz do jogo que eliminou o Brasil em 2006. Muito se criticou Ronaldinho Gaúcho naquela copa. Para mim, uma extrema injustiça (o que comentarei em uma outra resenha). E pouco se falou da pífia atuação de Carlos Alberto Parreira.
Pois bem, naquele 1 de julho de 2006 vociferei as seguintes palavras:


ME SABE MELHOR PERDER COMO PERDEU TELÊ


Estou convencido de que em uma copa, nem sempre se ganha a melhor seleção. Também tenho entre minhas crenças que jogar atacando ou contra-atacando não faz com que uma seleção tenha mais ou menos chances de ser campeã. Acredito que o treinador deve escolher o esquema adequado para sua equipe, conseguindo sempre o melhor de seus jogadores, seja qual for o esquema que adote. Agora, quando se possui um elenco farto de bons jogadores em todas as posições, sou taxativo: melhor jogar sempre em busca do gol, os 90 minutos. Sempre se pode perder um jogo, mesmo quando se conta com os melhores jogadores e se está sempre buscando o ataque, mas o contrário também é verdade, sempre se pode perder quando se joga com cautela. E se o risco de perder existe em ambas as formas, prefiro corrê-lo jogando no ataque. Jogar no ataque não significa jogar com muitos atacantes. Inclusive pode-se jogar no ataque em um equema de 3 zagueiros. E pode-se fazer um jogo cauteloso, mesmo com 2 centroavantes e 2 meias. O futebol necessita equilíbrio.

Pois bem, no caso do Brasil, somos indiscutivelmente privilegiados. Podemos sempre optar por jogar no ataque. E o fato de termos jogado no ataque e perdido as copas de 82 e 86, não significa que devemos abandonar esta característica. Está provado que também conseguimos perder quando jogamos burocraticamente. Diz-se que quem ganha ou perde jogo são sempre os jogadores, nunca o treinador. Isto só é verdade em parte. O treinador tem sim sua parcela nas vitórias e nas derrotas. E desta vez, acredito que cabe a Parreira um parcela maior de culpa. Primeiro por não querer atacar, depois por selecionar mal os jogadores e terceiro, por ser lento no decorrer da partida. Vamos aos fatos.

Roberto Carlos conseguiu uma fama que nunca fez jus a seu futebol. Um lateral não pode ser considerado bom por marcar gols de falta. Não é a principal função de um lateral marcar gols. Não vi jogar melhores laterais do que Jorginho, Maldini ou Zanetti, e não me recordo de tê-los visto marcar muitos gols. Ao jogar Gilberto Silva, Zé Roberto e Kaká juntos no meio de campo, Parreira abdica de uma criação melhor na saída de jogo, que para mim é a função principal no campo. É certo que não contamos com nenhum Falcão atualmente no elenco, nem sequer um Redondo, mas me parece que Zé Roberto, junto a Gilberto Silva não é a melhor escolha. Zé Roberto é um fenomenal jogador, quiçás um dos melhores laterais esquerdos que o Brasil já teve, mas, notem, é um lateral. Tem caracteríscas de um lateral (marcar um contra um, correr com a bola e cruzar bem, o que o faz infinitamente melhor do que Roberto Carlos). O ideal seria que contássemos com 3 Falcões e 1 Zico, mas quando isso não se faz possível, melhor tentar equilibrar com o que se tem. Zé Roberto, jogando de volante, seria uma boa pedida se o frente de zaga (Gilberto Silva) fosse um jogador do estilo de Redondo. Como não é assim e, para piorar, nem Kaká nem Adriano, nem Ronaldo são grandes armadores, essa função ficou sobrecarregada em Ronaldinho.

Já falamos da defesa e do meio campo, agora cabe arrematarmos esta crítica com uma opinião sobre o nosso ataque. Sempre preferi jogar com um atacante leve, de bom passe e bom drible, acompanhado de outro, extremamente oportunista, com um disparo certeiro e uma capacidade de se desmarcar nos momentos chaves. Melhor ainda se tem um bom cabeceio e sabe jogar de pivô, em suma, o centroavante nato. Nesta copa da Alemanha, Parreira optou por jogar com 2 centroavantes, Ronaldo e Adriano. Para que um esquema com 2 centroavantes funcione, em minha opinião, ou se joga a base do chutão (como a Itália) ou se faz necessário que os dois volantes tenham uma boa saída de bola. Como não acredito que chegarei a ver o Brasil jogar à base do chutão, e tendo em vista a minha análise dos nossos dois volantes, acredito que Parreira vinha se equivocando ao escalar Gilberto Silva (que só dá passes curtos e laterais) e Zé Roberto, junto a Ronaldo e Adriano. Isto sobrecarrega muito os dois meias e faz com que sempre dependamos de excelentes atuações de ambos.

Estes foram os erros de escolha de Parreira, agora lhes contarei na lentidão no transcorrer da partida. Contra a França, Parreira optou por jogar com Juninho no lugar de Adriano, mantendo 5 jogadores no meio. Sua aposta foi ganhar na armação sem perder no defensivo. É questão de escolha. Eu não faria, mas foi uma escolha aceitável. O problema foi que Cafú não estava em seus melhores dias e Káká fez o pior jogo de sua vida. Nossos dois volantes faziam o que sabiam, enquanto Juninho e Ronaldinho jogavam bem, mas nem tanto. Já do outro lado pudemos ver um Zinédine Zidane impecável, um grande Patrick Vieira, além de bons marcadores como Thuram e Makélele.

Bem, por sorte terminamos a primeira parte sem tomar nenhum gol. E como sempre, Parreira não fez mudanças. Seguiu com Kaká (que não acertou um passe, não dominou uma bola de costas e não abriu espaços para os companheiros) e com Cafú. Iniciamos a segunda parte como terminamos a primeira e, como era de se esperar, tomamos o gol. E, como sempre, Parreira nada fez. Não admito que um treinador que conte com excelentes jogadores no banco, como Ricardinho e Robinho, espere mais 10 minutos para fazer uma mudança quando o time vinha jogando mal desde o princípio. E para piorar, quando Parreira decide mudar, tira Juninho e deixa Káká. Com a entrada de Adriano, Ronaldinho apareceu um pouco mais, mas Káká continuou errando. E Parreira, com uma lentidão que beira a má fé, só fez as duas mudanças que deveria ter feito já no intervalo, quando faltavam menos de 15 minutos para o final da partida.

Perdemos para uma grande França. Desacreditada, mas repleta de bons jogadores. E que conta com o que foi, para mim, o melhor jogador dos últimos 10 anos. Mas perdemos, também, por culpa da cautela e medo de um treinador. E me sabe melhor perder como perdeu Telê em 82. Não me caem bem os covardes e os de raciocínio lento.

É tudo.

Valencia, 1 de julho de 2006

3 comentários:

  1. Sinto falta do tempo em que a Seleção Brasileira era convocada pelo técnico. Mesmo quando um militar indicou um técnico, fomos campeões. (Nenhuma apologia favorável à ditadura militar). O capital deve entender muito bem de Real Madrid, Manchester, Milan e talvez do Corinthians, mas de Seleção Brasileira... saudades! Saudades daquele eterno otimismo!

    Abraço, grande Tom.

    Parabéns pelo blog

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  2. Espetacular crônica, estou ansioso para ler as próximas.

    Abração.

    Parabéns pela excelente iniciativa.

    Bruno Prazeres

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  3. Parabéns pela resenha, muito boa!
    Permita-me discordar quando fala de Zé Roberto, achei que justamente pelo desvio de função, foi um destaque naquele time. Função essa que ele já vinha desenvolvendo ah algum tempo desde que havia abandonado a lateral.
    Não achei que na seleção em 2006 algum meia de criação, seja este nato ou deslocado da posição atuou tão bem como ele.
    Concordo plenamente sobre Roberto Carlos, pois estou pra ver maior embuste que aquele rapaz e sobre Kaká, que pra mim não há dúvidas que vai repetir o desempenho pífio daquela partida nesta próxima copa. É esperar pra ver.

    Tom, grande abraço!
    Espero que escrevas com mais frequência.

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