Muitos tem a seleção de 70 como o time ideal. Mas olhando de perto, não era ainda o ideal. Tínhamos um goleiro firulento, uma dupla de zaga "assim assim" e um lateral esquerdo sem pedigree. Mas o que é o ideal em uma equipe de futebol é algo difícil de dizer.
.Do goleiro ideal, esperamos que pare tudo, ou quase tudo, ou quando pouco, que nunca tome um frango. E deve saber iniciar um contra-ataque, e não se atrapalhar com uma recuada arriscada. Predomi, escrito assim mesmo, é o melhor goleiro do baba de domingo. Faz um tanto assim de defesas difíceis. Eu, pra mim, acho que ele complica de propósito. Espera a bola chegar pertinho para se deslocar. Aí, se entra, ele diz que era indefensável. Mas quando faz uma parada, é coisa de cinema. Só faz ponte de mão trocada. O engraçado é que quase sempre seu time perde. Ele diz que é por culpa dos zagueiros, que deixam chutar. Sempre que vejo Predomi, lembro de Jean, famoso goleiro do Bahia, e de Casillas, do Real Madrid. Inevitavelmente, o goleiro ideal deve ser grande. E deve estar bem posicionado. Hoje, tenho por goleiros quase ideais, a Júlio César e Bufon.
.
O zagueiro ideal nunca toma um drible. Se alguém quiser passar por ele, só de muito longe. Pelo menos uns 15 metros de distância. Mas não só isso. Gaúcho, do baba de quinta, também impõe respeito. Ninguém passa por ele. Ainda tenho sua marca da chuteira em minha coxa quando tentei, inadvertidamente, passar por ele. O problema de Gaúcho é que nunca joga mais de 15 minutos, pois Keka, o juizão, é seu inimigo. Para não ocorrer o mesmo, nosso zagueiro ideal deve ser técnico, ter antecipação, pocicionamento, bom cabeceio, força física, correr mais que o atacante e, de preferência, ter o passe do Beckenbauer. Como isso é dificílimo de ocorrer em uma única pessoa, o bom time tem que contar com uma dupla de zaga que se complemente. O zagueiro de força e o de técnica. Hoje, Lúcio e Juan se complementam. Dos zagueiros que vi jogando, Baresi e Aldair seriam a melhor dupla.
.
O lateral ideal deve, antes de mais, saber defender. Como sua posição não deve se limitar a defender, está obrigado a iniciar bem as jogadas. Nesta posição, mais que qualquer outra, a velocidade é uma característica utilíssima. Já o drible é atributo secundário. Marcar, subir e descer o tempo todo, cruzar com perfeição e, de quando em quando, chutar para o gol. O melhor lateral que acompanhei foi o Zanetti, hoje na Internazionale. Jorginho foi, talvez, tão bom como ele. Carlos Alberto, pelo que vi de imagens, lembra muito o melhor lateral da atualidade, nosso Maicon.
.
O volante ideal é um jogador elegante. Tem que fazer tudo bem. É o jogador que poderia jogar em qualquer lugar do campo. Não necessariamente o melhor em cada lugar, mas quebraria o galho em qualquer parte. Esse é, para mim, o jogador mais difícil de aparecer no futebol. E assim como o zagueiro, o melhor que o treinador tem a fazer é arrumar uma dupla de volantes que se complemente. O melhor neste posto, hoje, é o Balack. No Brasil, não temos ninguém que se assemelhe. O último grande volante brasileiro foi Falcão. Outros grandes jogadores na posição foram Redondo, Mathaus e Gullit. Hoje, no Brasil, o melhor é o Thiago Motta. Nós nos acostumamos, nos últimos anos, a colocar um zagueiro na posição de primeiro volante e um lateral na de segundo. Nesta copa, pelo visto, veremos algo parecido. Gilberto Silva é zagueiro.
.
O meia ideal deve saber driblar, correr com a bola nos pés, dar passes precisos entre os zagueiros e, também, fazer muitos gols. Zico era o protótipo do meia ideal. Como só encontramos Zicos de tempos em tempos, o treinador ideal deve formar uma dupla de meias que se complementem. Zidane e Figo formaram uma boa dupla. Hoje, no Brasil, Alex e Kaká formariam outra.
.
O atacante ideal deve ter quase as mesmas características do meia ideal, porém não será tão necessário saber dar lançamentos. Por outro lado deve saber se desmarcar, chutar com as duas pernas e ter um bom cabeceio. Ronaldo era o atacante quase ideal, faltava saber cabecear. Como encontrar um Ronaldo é tarefa quase impossível, um Ronaldo cabeceador é coisa para cientistas. Por falar em cientistas, lembro-me do dia em que apresentei o Dr. Felisteu Abade, diretor do laboratório de fusões humanas de Arapiraca, ao nosso presidente Ricardo Teixeira. O Dr. Felisteu ofereceu-se para fundir Ronaldinho Gaúcho e Robinho em um jogador, no atacante ideal. Teríamos a técnica de Ronaldinho, somada a movimentação de Robinho. Teixeira gostou da idéia, mas não concordou em pagar sequer os custos da dificílima fusão. Também, Robinho, em conversa privada comigo, garantiu que não aceitaria. Se ainda fosse com o Kaká, que é bonitinho... confidenciou-me o vaidoso atacante santista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário