Defendo a teoria de que o estilo do futebol de um país é um reflexo direto da sua sociedade. Em culturas mais jovens ou em constante renovação, o futebol tende a ser mais atrevido, destemido e alegre. Em culturas mais velhas ou enrijecidas, o futebol tende a ser mais burocrático, cauteloso e fechado.
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As seleções africanas, em geral, são conhecidas por sua 'irresponsabilidade tática'. O Brasil ficou conhecido por sua alegria, já Itália e Alemanha, por sua disciplina. O mundo mudou e o estilo do futebol de alguns países também.
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A Espanha passou por uma transformação quase completa, saindo de uma ditadura agrária e católica para um país democrático e moderno. Sua maneira de jogar futebol também mudou. Hoje a Espanha é mais confiante e ousada e a estética voltou a figurar como um dos valores fundamentais da sociedade e do futebol. Não basta ganhar, mas existe a exigência de se jogar bonito. Daí a proliferação de jogadores elegantes no futebol espanhol.
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O Brasil, por outro lado, começa a se inserir em um grupo de culturas mais complexas, e o futebol brasileiro vem se tornando, ano após ano, um futebol mais prático, voltado para os resultados. O Brasil está ficando velho, e como tal, começa a reflexionar demais, a calcular, a temer o risco. O planejamento, a seriedade e o comprometimento saltaram ao primeiro plano quando o assunto é futebol. Já não somos crianças e a brincadeira e a irresponsabilidade foram banidas.
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A Argentina passa por uma fase de confusão social, ninguém tem certeza do que será amanhã. A seleção argentina é reflexo dessa desorientação. Não tem esquema definido, nem jogadores intocáveis. O que hoje é bom, amanhã pode deixar de ser. Nesta Copa, a Argentina encarna a 'surpresa'.
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A Alemanha passa por um processo de rejuvenescimento da sociedade em virtude da imigração. As diversas culturas que se mesclam àquela velha cultura germânica trazem novos ares ao conjunto resultante. No futebol, começaremos a presenciar uma vigorosa mudança no estilo de jogo alemão. É bem possível que esta seja a seleção mais irresponsavelmente ofensiva que a Alemanha já teve.
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A Itália continua envelhecida em qualquer área da cultura. O medo está sempre presente na sociedade, seja de Deus ou do futuro. O racismo está extremamente enraizado, inclusive no futebol. Como reflexo, vemos o futebol mais previsível, cauteloso e feio de todas as boas seleções. O medo da derrota faz com que se aceite bem o empate.
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A Inglaterra e a França estão no meio termo entre a Alemanha e a Itália. Se nutrem das culturas que se avizinham, mas não se deixam tocar por completo. No futebol isto se reflete em uma ligeira contaminação.
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A Holanda é um país de comerciantes, sempre foi influenciado e esteve aberto a novas culturas. Tanto que seus habitantes costumam falar fluentemente diversas línguas. Estão na vanguarda em diversos âmbitos sociais. Sua cultura está, apesar de antiga, em constante renovação. No futebol isto significa que será uma das primeiras a testar novos esquemas, apaixonados pelo risco que estarão correndo.
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Em suma, podemos conhecer um pouco do estilo de um povo pela maneira em que jogam futebol. Temo pelo Brasil, pois se estamos deixando a juventude de lado e não conseguimos nos revigorar, fatalmente nos tornaremos petrificados e morreremos como sociedade criativa.
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