Ontem, muitos jornalistas já começaram a escrever a resenha de hoje com as frases: "Neymar é pipoqueiro" e "Santos só goleia time de várzea", mas salvos pelo cansaço do Santo André, e uma boa segunda parte do Santos, puderam continuar o coro de "melhor time brasileiro desde o Santos de Pelé". Assim funciona a imprensa esportiva brasileira, sempre saindo do minus ao maximus em fração de segundos, ou melhor, de resultados. Hoje Neymar é um craque, amanhã, se por ventura o Santos perde para o Santo André e para o Atlético Mineiro, Neymar é um "cai cai". O resultado faz o comentário. E dessa forma, nunca se erra. Talvez seja um signo da nossa sociedade do "aqui agora", ou do prazer imediato.
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O Santos joga bem, principalmente pela atitude em campo. Outras equipes foram melhores do que o Santos atual, como o Palmeiras de 93 a 97, o Vasco de Juninho, Pedrinho, Ramón, Edmundo e Evair, ou o Cruzeiro de Alex. Contudo, o que diferencia este Santos é a ousadia do treinador, possivelmente direcionada pelo presidente do Santos. Ontem pudemos notar como o Santos busca sempre fazer gols, não simplesmente o resultado. Vencendo por 3x1 e com um homem mais em campo, seu treinador tira o Pará, um lateral, para a entrada de Madson, um atacante. Não funcionou, pois o Santos tomou um gol, mas foi extremamente elogiável esta escolha. O Santos queria a goleada. É certo que se o Santo André empata a partida, hoje veríamos enxurradas de críticas ao treinador do Santos, pois, como disse acima, os comentários de nossa imprensa são sempre pós-resultado.
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Espero que o presidente do Santos tenha entendido que ganhar jogando bonito é mais lucrativo financeiramente, tanto porque a marca é mais vista, quanto porque seus jogadores são vendidos pelo triplo do preço. Apenas o Real Madrid, e ultimamente o Barcelona, não se contentam com uma vitória simples. O Madrid quer ser galático, quer encantar. Assim, Capelo foi demitido, mesmo sendo campeão, pois não encarnava a "filosofia" do clube. O Madrid quer ser visto e admirado. E assim se fez rico, pela beleza e genialidade de suas equipes e jogadores. Aqui no Brasil, o Santos tem tudo para imitar o Madrid, já tem história de galático, jovens promessas e, inclusive, veste branco como o time espanhol. Para isso, necessita seguir buscando golear, mesmo que perca alguns jogos, como para o Atlético Mineiro. Deve buscar parcerias para não só manter o Neymar e o Ganso, como contratar outros bons jogadores. Quem sabe o Santos não convence os zagueiros Lúcio e Juan a voltarem para o Brasil depois da copa, não mantêm o Robinho por mais 8 anos e repatria o Dudu Cearense e o Diogo, que estão no Olympiacos, do 'invisível' campeonato grego. De quebra trás de volta o goleiro Renan ou o Diego Alves.
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Infelizmente, em nossa sociedade atual, onde vale tudo pelo resultado, somos obrigados a mostrar aos donos das televisões e times que, financeiramente, é infinitamente mais lucrativo jogar bonito. Seria uma confrontação entre dois pilares da sociedade de massas, e nessa balança, o lucro está diretamente relacionado à quantidade de beleza que uma equipe pode ofertar. Então, se não somos capazes de convencer sobre a necessidade do retorno ao futebol ofensivo, via argumentos puramente estéticos, cabe apelar ao sentido financeiro da necessidade.
Engraçado. O seu argumento financeiro para o futebol bonito é bom. Dizem que a única maneira de acabar com o desmatamento na Amazônia é fazendo do turismo ecológico algo mais rentável que as causas do desmatamento.
ResponderExcluirTambém escrevi algo sobre o Santos. Mas não pensei no dinheiro. Chutei que o futebol bonito sobreviverá mesmo que de modo não lucrativo.
laecafc.wordpress.com